A HISTÓRIA DA DISCO


A música Disco é um gênero de música de dança cuja popularidade atingiu o pico em meados da década de 1970. Teve suas raízes nos clubes de dança voltados para negros, latinos americanos, gays e apreciadores de música psicodélica, além de outras comunidades na cidade de Nova York e Filadélfia durante os anos 70.

Assim como outros gêneros musicais, não é possível afirmar com exatidão seu nascimento, mas, suas origens remetem aos anos 60. Naquela época, a Black Music passava por grandes transformações. Apesar de sua força criativa, dificilmente chegava ao grande público. Era uma época de grandes conflitos raciais, com uma distinção entre o que era cultura para brancos e negros.

Conforme o movimento pelos direitos igualitários ganhava força, aos poucos, os negros americanos começaram a ganhar espaço no universo dominado por brancos. A Soul Music engatinhava seus primeiros passos "fora da casinha".

Neste momento, produtores, arranjadores e maestros começaram a criar sons, que se diferenciavam pelo aumento do tempo do compasso e do uso de cordas, adicionando energia e excitação. As batidas ritmadas como a do coração, a percussão abundante, os arranjos vocais requintados, arranjos rítmicos de alto trompete e de corda e letras bem animadas que fazem querer dançar, foram os primeiros fundamentos do que se tornaria a DISCO MUSIC.

Outros músicos seguiram o exemplo e começaram a experimentar novos arranjos com instrumentos de sopro, flautas, trompetes e cornetas. Chegou o FUNK - estilo que se caracterizava por uma batida que tinha um tempo próprio, elementos percussivos mais sofisticados e o sax. Uma vez que o Soul e o Funk já estavam incorporados pelo público negro, faltava um elemento que definiria o gênero: o Jazz. Utilizando uma percussão mais latina, ele envolveu o Soul com um sentimento mais Pop. Esta união: Soul + Funk + Jazz resultou na DISCO MUSIC.

A primeira gravadora responsável pelo movimento foi a Salsoul Records, na Filadélfia, que misturava música Latina, Salsa, Soul e arranjos orquestrais.

Era o momento para o novo estilo musical. O cenário Pop era dominado pela grandiloquência dos grupos de Rock Progressivo, com álbuns que flertavam com a música erudita. Isto começava a cansar o público. Enquanto na Inglaterra surgia o movimento Punk, com os jovens usando roupas de couro preto, cabelos raspados e contestando violentamente os valores da sociedade, na América, os ares eram outros. Era o momento da vibração sexy, leve e contagiante da DISCO MUSIC.



A revista Rolling Stone escreveu o primeiro artigo sobre o gênero, em setembro de 1973, assinado pelo jornalista Vince Lettie. Um ano depois, Nova York inaugurava a WPIX-FM, a primeira rádio exclusiva de Disco Music.
 


A televisão levou o gênero para as casas da classe média. Criado por Don Cornelius em 1971 (falecido em 1 de Fevereiro de 2012), o programa de televisão "Soul Train" foi o primeiro a fazer a transição dos artistas do Soul para a Disco. Na sequência surgiram "Disco Step-by-Setp Television Show", "Disco Magic/Disco 77", "Soap Factory" e "Dance Fever", apresentado por Deney Terrio - creditado como preparador musical de John Travolta para seu papel em "Os Embalos de Sábado à Noite".



Don Cornelius

Nos primeiros anos da década de 1970 em Nova York, disco clubs (discotecas) eram espaços exclusivos para minorias - leiam-se homossexuais, negros e latinos. Estes lugares garantiram a diversão sem o julgamento social ou a perseguição policial. No meio da década, porém, as primeiras cidades americanas tinham suas casas.

Com a inauguração do Studio 54 em abril de 1977 em Nova York, o termo Disco (abreviação do francês Discothèque) ganhou o mundo. Outras casas foram a "Xenon", "The Loft", "Paradise Garage", "The Gallery", "Copacabana" e o "Aux Puces" - uma das primeiras voltadas exclusivamente aos homossexuais.



                                                                            The Loft

                                                                DJ Nicky Siano no The Gallery
                                                        Dj Larry Levan no Paradise Garage


O gênero ganhou tanta força, que algumas cidades montavam cursos com dançarinos profissionais para ensinar a ansiosos alunos os passos para se tornar o rei ou a rainha das pistas de dança.

Mesmo não sendo conhecida como Disco, "Love Train" (1972), do grupo The O'Jays, é considerada a primeira representante do gênero. Ela chegou a Billboard Hot 100. Em 1974, "Love's Theme" de Barry White se tornou a segunda canção disco a atingir a parada. No mesmo ano, "Shame, Shame, Shame" de Shirley & Company e "Rock The Boat" de Hues Corporation ganharam espaço nas rádios.
Somente em 1975, com a canção "The Hustle" de Van McCoy, que a Disco Music chegou nas pistas de dança. A canção liderou o chart da Billboard, chegou a 3ª posição no Reino Unido e ainda ganhou um Grammy. Ano de "Kung Fu Fighting" (Carl Douglas - single mais vendido), "Rock Your Baby" de George McCrae e "Never Can Say Goodbye" de Gloria Gaynor - regravação do The Jackson Five, que se tornou a primeira canção a figurar na recém criada categoria Dance da revista Billboard, onde permaneceu por quatro semanas.

Apesar de produzida um ano antes, "Shame, Shame, Shame" também fez sucesso na época. Também foi o ano de "Get Down Tonight" da banda americana KC & The Sunshine Band, que lançaria outros hits dançantes nos próximos quatro anos.

Em 1975 foi o ano da coroação da Rainha da Disco Music: a cantora e compositora Donna Summer. Produzida por Giorgio Moroder, ela gravou "Love To Love Your Baby", que continha uma série de reproduções de orgasmos. O produtor não dava nada para a canção, mas quando começou a tocar nas pistas de dança, rapidamente se tornou uma sensação, garantindo quatro semanas no primeiro lugar no chart da Billboard. Com o sucesso, a canção ganhou uma versão de 17 minutos.


Nos próximos cinco anos, Donna Summer cravou 10 canções no primeiro lugar na parada dance - feito inigualável por qualquer outro artista. Outros nomes que tentaram roubar sua coroa foram Thelma Houston, Grace Jones, Alicia Bridges, Tina Charles, Yvonne Ellimar, France Joli, entre outras.

No dia 14 de dezembro de 1977 estreava nas telas o musical "Os Embalos de Sábado à Noite", que contava a história de Tony Manero, um vendedor de loja de New Jersey que se transformava em rei nas pistas de dança.

Estrelado por John Travolta, o filme custou parcos US$ 3,5 milhões e rendeu US$ 237.113.184 milhões. Foi o fenômeno da década, influenciando comportamento, moda, beleza, etc.

A trilha sonora produzida pelo grupo australiano Bee Gees entrou para a história com 15 milhões de cópias e quinze discos de platina. Até 1992, era a trilha sonora mais vendida da história. Com a chegada do arrasa-quarteirão estrelado por Whitney Houston, passou ao segundo posto - lugar que mantém até hoje.

Village People, Chic, Santa Esmeralda, Boney M e uma infinidade de bandas "one-hit-wonder" garantiram os seis anos de sucesso ao estilo musical, que despertou o interesse de artistas de outros estilos, como o do grupo sueco ABBA, que ganhou o mundo com "Dancin Queen", "Gimme, Gimme, Gimme" e "Voulez-Vous". Outros que também se jogaram na Disco foram Blondie (The Heart Of Glass), Cher (Take Me Home), Rod Stewart (Da Ya Think I'm Sexy), George Benson (Give Me The Night), Elton John (Don't Go Breaking My Heart), Barbra Streisand (No More Tears ao lado de Donna Summer) e The Jackson 5 (Shake Your Body e Blame It On The Boogie). Até a Diva Diana Ross lançou alguns sucessos na época, como "Love Hangover", "The Boss" e "I'm Coming Out".

A Disco Music gerou US$ 8 bilhões por ano para a indústria musical americana. Em 1978, as estações de rádio Disco alcançaram os maiores índices de audiência. No entanto, em 1979, o gênero dava sinais de esgotamento. Em 12 de julho, a coisa degringolou.

Steve Dahl, um DJ de Chicago, convocou fãs de rock para queimar álbuns de Disco Music no intervalo de uma partida entre os times de basebol Chicago White Sox e Detroit Tigers, no Comiskey Park. Foi uma confusão sem fim. A polícia fez diversas prisões e contabilizou a quase destruição do campo. O evento ficou conhecido como "Disco Demolition Night", ou o dia que a Disco morreu.

                                                                   A foto do infeliz



No dia 19 de julho, os seis discos mais vendidos nos Estados Unidos era de canções Disco. No dia 22 de setembro, porém, eles sumiram do Top 10. Na imprensa, em tomo solene, era anunciado que a Disco Music morreu e o rock renasceu.

O sentimento anti-disco uniu fãs de rock, punk e country - que em 1980 começava a galgar os primeiros lugares nas principais paradas americanas. No mesmo ano foi lançado "Cowboy Urbano", com Debra Winger e John Travolta como protagonistas de um romance que se passava no Texas. Ironicamente ou não, novamente Travolta viveu o auge e o fim da Era Disco, lançando outro modismo: o estilo country.

Outro legado que contribuíram para o declínio do gênero foram a crise econômica e política nos Estados Unidos, as críticas ao estilo de vida hedonista e aos exageros dos frequentadores das discotecas e um levante homofóbico e racista que uniu feministas, punks, roqueiros, puritanos e reacionários. Com medo de represálias, rapidamente o infeliz DJ que orquestrou o evento de Chicago negou qualquer idéia de racismo ou homofobia.

No final de 1979, a indústria da música americana contabilizava as piores vendagens da década. Harold Childs, vice-presidente da A&M Records contou ao Los Angeles Times que "As rádios estão desesperadas pelos produtos do rock. Eles estão procurando por algum rock-n-roll branco". Sobre isto, a cantora Gloria Gaynor afirmou que a indústria da música americana destruiu a Disco porque produtores de rock estavam perdendo dinheiro e os roqueiros estavam sendo deixados de lado.

Apesar disso, a Disco Music não morreu inteiramente. Sim, na América, ela entrou em declínio, assim como centenas de artistas solos ou grupos foram sumindo do mapa. Na Europa, porém, ela continuou. Foi se modificando ao longo dos anos, incorporou novas tecnologias e se revitalizou com a forte influência nos novos estilos da música eletrônica, como House, Techno, Trend, Acid, além do Rap e o Funk. O estilo deixou de se chamar Disco para se tornar Dance. O mesmo ocorreu com as Discotecas, que ganharam o nome de Danceteria. A partir dos anos 90, o nome "Club" definiu o tipo de casa.

Hoje com a tecnologia da Web, você pode ouvir todas essas músicas do passado que marcaram a época e as novidades da chamada Nu Disco.

Basta acessar: www.radioboogie.com

Texto extraído do blog mondomoda e coluna assinada por Jorge Marcelo Oliveira.

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